12.1.10

Ser pobre é uma merda! II




Neste ponto, a situação chegou a um momento crítico. Todas as possibilidades de continuar bebendo haviam acabado, mas a nossa sanha alcoólica continuava intacta.

Acabamos descobrindo um ponto de venda de água do lado da minha casa onde uns caras jogavam dominó e bebiam.

TUDO DE BOM!


Fizemos amizade imediatamente com os caras e começamos a comprar cerveja deles. Às quatro e meia da manhã eu estava sentada em uma banca do jogo do bicho entornando uma latinha e já vendo alguma coisa de Nicolas Cage no cara que entrega água lá em casa.

Para vocês terem uma noção da bagaça, a bebedeira tinha começado por volta das oito da noite. Quando senti que estava a um passo da merda total, me despedi e fui embora.

Meu amigo também tomou o rumo dele. Do dinheiro que tinha sobraram apenas R$ 10. Sem grana, ele pegou um transporte alternativo para casa e chegou lá pelas cinco da manhã. Nem teve medo da mulher. Afinal de contas, no dia seguinte resolvia a parada entregando o dinheiro todo do salário para a querida companheira.

Tudo teria sido ótimo, caso a empresa não tivesse atrasado o pagamento.

Foi o caos e a barbárie! Eu e meu amigo ficamos fodidos.

Na redação, tudo o que conseguíamos pensar era: “Caralho, se a gente tivesse tomados umas dez cervejas a menos!”

Pior ainda para o meu amigo, que passou dias dormindo no sofá sem poder encarar a patroa.

Mas o que me deu pena mesmo foi do repórter de esporte. O garoto era estagiário e tinha acabado de ser contratado. Era o primeiro salário. Chegou a sexta-feira e enfrentou uma fila enorme no banco para sacar o dinheiro. Uma hora de espera depois fala, cheio de orgulho, para a moça do caixa “não vou tirar tudo não, vou sacar só uns R$ 300”.

A moça consulta o computador e grita para a fila inteira ouvir, com aquela delicadeza que só os caixas de banco têm, “DESCULPE, SENHOR MAIS O SEU SALDO ESTÁ NEGATIVO!”. O moleque ficou amarelo. Chegou na redação completamente mofino e pior, sem cartão do banco ainda, pressentindo um final de semana de muita dureza. É, ser pobre é, definitivamente, uma merda!

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